24 de outubro de 2012

Lamentalicious!





- Por que é tão difícil aceitar o fato de que as pessoas pensam diferente? De que pessoas acreditam em coisas diferentes, gostam de coisas diferentes, reagem de formas diferentes?

- Ainda com isso?

- Não, sério. É tão impossível assim ver o 'óbvio ululante' desfilando sua obviedade em néon-cheguei? Sobretudo nessa época em que nos orgulhamos do nível de "civilitude" que alcançamos. Embora, a quem queremos enganar... a essa altura, o Giro do Cíngulo rodou e o Límbico Profundo afundou.

- Bueno... Talvez porque as pessoas esperam que os outros pensem da mesma forma que elas, que sintam da mesma forma, que ajam da mesma forma. 

- E por que esperam isso? Ninguém "encaixa" em ninguém. 

- Oh, Deus, lá vamos nós de novo... Talvez porque acham que a sua forma de pensar, de sentir e de agir é a mais adequada e tudo o que é diferente passa a ser visto como "errado" e, portanto, inaceitável. Essas pessoas não aceitam como legítimas as outras formas de pensar, de sentir e de agir unicamente porque são diferentes. Invés de se permitirem compreender essas diferenças, erguem um paredão em torno de si, construído a base de orgulho e prepotência, afirmando para si mesmas que os "errados" são os outros e que a razão, a única que conhecem, está do seu lado. Tal pensamento-atitude é tão enraizado que se torna difícil para elas enxergar além daquilo que consideram ser o "certo", permanecendo bitoladas naquilo que acreditam que "não é errado", "único" e "absoluto".

- Intolerância ideológica é o que mais há, nestes tempos modernos em que todos se acham sabedores de tudo.

- Sem dúvida. Uma vez que as pessoas assumem para si mesmas que elas têm razão e que os outros é que estão "errados"...

- ... errados segundo seus próprios parâmetros.

- ... elas passam a tratar esses outros com intolerância, porque se vêem no direito de estar acima daqueles que não fazem parte do seu círculo. Se não fazem parte do seu círculo são vistas como "marginais", literalmente os que vivem à margem, e que foram colocadas lá porque simplesmente pensam, sentem e agem de forma diferente. Apenas por isso.

- Por que taxar os "diferentes" de insanos e tratá-los como anormais, e não ceder à idéia de aceitação? 

- Bueno... porque talvez seja mais fácil. 

- Você quis dizer "mais sofrível". 

- Eu quis dizer "mais fácil" para quem o faz. Afinal não é mais cômodo negar?  Mesmo que os "diferentes" passem a vida inteira a se explicar, dificilmente essas pessoas entenderão, porque sua intolerância ideológica tornou-se um preconceito. Elas fecharam as mentes, os seus olhos, os seus ouvidos, o seu coração para ouvir o que vem de fora e permanecem reclusas em seu mundo de "coisas certas".

- E é por isso que aprecio os zumbis: eles têm esse poder de abrir a mente humana...

- Hahaha! Mas é preciso entender que essas pessoas têm medo. 

- Oh sim, elas devem ter. Zumbis não são, digamos, um exemplo de beleza...

- Sério. 

- Eu sei a que se refere. Elas têm medo do "diferente" e do que ele pode fazer com o mundo delas, porque o "diferente" é algo desconhecido para elas, é algo que não conseguem compreender, é algo que abalaria as estruturas daquilo que consideram como "certo" e "normal". Elas não conseguem aceitar o fato de que as diferenças podem coexisitir pacificamente, sem que aquilo que faz sentido para elas precise acabar. Para elas, duas "razões" diferentes ou antagônicas não podem coexistir no mesmo espaço, porque uma está destinada a eliminar a outra.

-  Daí a necessidade de fazer valer a sua "razão" sobre a razão dos outros, nem que seja à força. O tipo de atitude que muitos assumem contra os semelhantes, por suas diferenças (perseguindo-os, humilhando-os, esnobando-os, agredindo-os) é um exemplo de luta pela sobrevivência. Com a grande diferença de que essa luta não existe de fato. Ela não passa de uma ilusão criada pela necessidade de se impor.

- Penso que essa "luta pela sobrevivência" terá fim quando os dois lados em conflito se respeitarem. Para isso, bastaria que as pessoas tivessem noção de limites. 

- O problema é que bastar não é suficiente. Difícil não insistir em mudar os "diferentes" para que se adequem às suas expectativas; ou aceitar o fato de que os "diferentes" têm direito de manifestar a sua opinião e defender o seu ponto de vista, e que não são obrigados a aceitar o ponto de vista dos "iguais";  ou compreender a posição dos "diferentes" de continuar acreditando no que faz sentido para eles e agir pacificamente da forma que melhor lhes convir.

- Nunca foi tão difícil dar de ombros para o inevitável e se contentar com as próprias escolhas.

- Bastaria não atravessar a linha riscada no chão. É tudo uma questão de não ultrapassar os limites da tolerância e da respeitabilidade. Se ultrapassar, não reclame das consequências. Até os "diferentes" sabem igualar o grito.

- É, como dizia vovô: "É só deixar o bicho quieto, que ele não mexe".





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