19 de maio de 2017

Time... remains on my side



Quando comparo o passado da nossa história política com o presente, hoje a impressão é de que estamos pior que em 1964 e nos anos de opressão ditatorial que assolou o país. Pior por um único e imenso motivo: o descrédito do povo em suas instituições, representantes eleitos, autoridades investidas, descrédito em seu próprio sistema legal. Ao contrário de nossos pais, e dos pais de nossos pais, as razões para lutar, por mais suficientes e urgentes que sejam, vão obscurecendo e se tornando obsoletas antes de se esgotarem. Antes mesmo de irem as vias de fato. Os filhos dessa geração nascem presos de um individualismo cada vez mais enfermiço e da desesperança crescente, vão colecionando desmotivações em série e abraçando o design de um futuro degenerado como a um velho amigo. Hoje, o cinismo é alimento para o conformismo - "não vale a pena, é tudo farinha do mesmo saco" - e é difícil até mesmo condená-lo (o cinismo) quando nós mesmos, os que vieram antes, olhamos para o labirinto sem paredes em que somos confinados - o sistema "Sybil", o modum productio, a Matrix, - e não conseguimos achar saída para centenas de milhões de pessoas. Não há uma saída, mas válvulas de escape. Reformas que o próprio sistema assimila e que o redefinem, suplantando-se como uma inteligência artificial de um deus ex machina.  

Nós, os que vieram antes, também estamos cansados. Cada vez mais aversos ao pensamento de insistir no mais do mesmo quando o mesmo leva ao mais de si. Se somos francos, o que hoje nos mantém de pé e nos empurra a seguir, é a persistência da própria vida. É pelo instinto de sobrevivência que persistimos no labirinto de paredes invisíveis, é o senso de prevalecimento que não nos deixa entregar os pontos.

Porque algo precisa ser feito.

Pelo simples fato, inevitável condição de quem respira, de se estar vivo.
E porque não avisaram da falha no sinal da Matrix. Ela deve ter sido plantada ali por um motivo: toda vez que nos movemos contra o sistema, o sistema cria defesas e, quando ultrapassado, se força a um upgrade, um que incorpore reformas de sua velha estrutura. Isso parece fortalecê-lo, torná-lo imbatível como uma intangível Hidra cujas cabeças decapitadas se refazem. Mas o que não é dito, o que é quase que completamente esquecido, o que bilhões não contabilizam - enterrados sob toneladas de distração - é que qualquer movimento contra o sistema põe em movimento a transformação da mentalidade individual e de grupo.

Não é algo que se possa medir em uma única vida, a transformação, mas é algo que parte de um princípio, vai ganhando força e atravessando os corredores do tempo, arrastando, como uma onda, as coisas confinadas no espaço do mundo das coisas.

Não há escapatória.
É uma fatalidade projetada:
Ou paramos e somos definidos pelo sistema ou nos movemos de lugar e o redefinimos.


Quando comparo o passado da nossa história política com o presente... uma palavra se auto define:
AVANTE!