18 de março de 2009

Notícias que abalam o mundo e transformam a vida...



Mais uma 'pesquisa de boteco' realizada por supostos cientistas em franca descensão revela que livros e músicas têm a capacidade de emburrecer quem os consome, especificamente determinados tipos de livros e músicas. Para chegar aos dados "impressionantes" e "conclusivos" do "estudo", os "cientistas" compararam o gosto literário e musical de alguns dos alunos que prestaram o SAT, uma espécie de 'vestibular' norte-americano, com as notas que esses mesmos alunos alcançaram no exame. Descobriram, então, algo que 'abalará o mundo e transformará as nossas vidas': que as maiores notas correspondiam aos alunos que ouvem (ou dizem ouvir) Beethoven e que lêem (ou dizem ler) obras como Cem Anos de Solidão, enquanto que as piores notas correspondem aos alunos que ouvem uma coisa chamada Lil Wayne e/ou lêem a Bíblia.


O resultado "científico" desta pesquisa de "relevante valor sócio-cultural" pode ser visto nas tabelas linkadas abaixo:


Músicas que emburrecem: http://musicthatmakesyoudumb.virgil.gr/

É de se notar que, segundo a escala de valores:

- Quem lê a Bíblia é "mais burro" do que 'Quem não lê (algo)'.
O que nos leva ao seguinte silogismo: Cientistas renomados lêem a Bíblia para estuda-la à luz das ciências. Logo, os cientistas que lêem a Bíblia são mais burros do que um indivíduo iletrado.

- Quem lê livros como 'Harry Potter', de J.K. Rowling, e 'O Código Da Vinci', de Dan Brown, é mais inteligente que os que lêem 'Crônicas de Nárnia', de C.S. Lewis, e 'Hamlet', de William Shakespeare.
O silogismo é mais ou menos assim: Digamos que, hipoteticamente, Stephen Hawking, considerado o maior físico teórico da atualidade, leu a série Harry Potter. Logo, os livros da série Harry Potter podem torna-lo um prodígio intelectual!

Porém, se Stephen Hawking disser que leu Hamlet (em desvantagem na escala) teremos aí um impasse: ele é inteligente (porque leu Harry Potter) ou é burro (porque leu Hamlet)?

É de se notar ainda que 'Quem não lê' está posicionado acima daqueles que lêem livros como 'A Cor Púrpura' e quase empatado com aqueles que lêem clássicos da literatura como 'O Morro dos Ventos Uivantes'.

E os "fatos científicos" notáveis não param por aí. De acordo com a escala "científica" de valores:

- Quem ouve Jazz e Alternativo é "mais burro" do que quem ouve Techno e Rap... embora a banda Radiohead tenha sido assinalada como Alternativo e esteja em ótima posição.

- Quem ouve Maroon 5 é "mais inteligente" (ou menos burro) do que quem ouve Jazz, Alternativo, Rock Clássico e... The Doors.

- Quem ouve Outkast é um prodígio comparado com aqueles que ouvem Green Day, Dave Matthews Band, Bob Marley, Pink Floyd e Pearl Jam.

- Quem ouve Beethoven é um gênio não reconhecido e pode requerer junto a Harvard o título de Doutor Honoris Causa, estando apto a disputar com o ratinho Cérebro quem leva a melhor na corrida pelo domínio do mundo.

A partir da escala "científica", chega-se à fácil conclusão de que:
- Livros e músicas não estimulam a inteligência, eles DETERMINAM o próprio quociente intelectual.
- Howard Gardner, cientista que formulou a Teoria das Inteligências Múltiplas, enganou-se multiplamente. Não temos possíveis oito espécies de inteligências (linguística, lógica, matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal), algumas desenvolvidas, umas em latência e outras adormecidas esperando pelo estímulo correspondente; podemos ser definidos intelectualmente apenas pelo que lemos e pelo que ouvimos nas escalas esquemáticas elaboradas.
- Certamente, Einstein era um assíduo leitor da Bíblia e ouvia muito Rock Clássico e Alternativo quando criança, o que explica suas notas baixas e sua 'inaptidão' para matemática; quando passou a ouvir Beethoven e a ler "Lolita" tornou-se o gênio que conhecemos.
- Os 'emos' fascinados por My Chemical Romance e Evanascence têm mais chance de tornar-se homens e mulheres "intelectualmente bem sucedidos" do que os pobres coitados que ouvem Nat King Cole, Louis Armstrong, Billie Holiday e Ella Fitzgerald.

Pois é... não é?

16 de março de 2009

Sacais do tio Zara, parte II



Da Casa de Fräulein Joana, assim sarcasmizou a pequena Zarita:
 Sabe qual é o 'ó do borogodó'? O discurso de que dinheiro não traz felicidade. CLARO que não "traz", ele COMPRA! Em dólar, em euro, em libras esterlinas, em ienes, com juros e correções monetárias!  

Que me perdoem (ou me executem a pau e a pique) as almas de estoica consciência e as de hipócrita existência, mas, ah!, como eu gostaria de ser rica e infeliz! Desfrutaria a minha infelicidade existencial em uma existência de comodidades, regalias e desejos materiais saciados em tempo real (também em dólar, em euro, em libras esterlinas, em ienes)!

Choraria meus dramas em um transatlântico (de minha propriedade) e afogaria minhas nóias em uma caríssima taça de vinho, em Milão!

Fomentaria as minhas misérias existenciais lendo Sartre enquanto cruzaria os céus de Paris em um avião luxuoso (de minha propriedade), e invejaria a simplicidade das crianças numa das praias de Bahamas, de dentro de uma limusine elegantíssima (de minha propriedade)!


Sim, eu adoraria ser rica! Nem que para isso pagasse o "alto" preço de ser infeliz!"


A
ssim expeliu Zarita, do trono de porcelana da casa de Fräulein Joana, e assim registrou tio Zara nas fibras macias de um rolo compressor de papel higiênico.