29 de abril de 2019

Inevitabilidade



Pra cada livre escolha que você pode, existe uma consequência que você deve.

A insustentável leveza da simploriedade

É simplório e reducionista, com o perdão do eufemismo, acreditar em meritocracia. Não existe isso em uma sociedade capitalista segmentada que se faz da desigualdade e se torna, a cada ciclo, mais desigual. O esforço próprio faz milagres mas ele é limitado e milagres são uma rara exceção. O limite é imposto pelo sistema e ele é aplicado a grande maioria - bilhões de pobres em todo mundo, dezenas de milhões nesse país e subindo. 

Em 2017, só no Brasil registrou-se uma mega concentração de renda nas mãos de 6 pessoas que, juntas, somam o equivalente da renda da metade pobre do país. O capitalismo vai avançando, tornando-se mais o que é, e a cada ano, com o aumento populacional, o número de pobres cresce enquanto o de ricos se reduz a um clube de VIPs. Estamos vivendo numa espécie de distopia leve ou os preparativos de algo ainda mais impactante. A essa altura, depressão, síndrome do pânico e ansiedade são algumas das enfermidades desenvolvidas, seguidas ou não de suicídio, cujos índices crescem assombrosamente (hoje, o Brasil ocupa o 1º lugar no ranking da América Latina de casos de suicídios registrados, a maioria vitimando adolescentes e jovens adultos), enfermidades que atingem especialmente os centros urbanos das grandes metrópoles, onde se concentram milhões de pobres buscando independência econômica num meio de profunda escassez em que as oportunidades, que já eram poucas, diminuem e afunilam. 

Com tantos aspectos, fatores, espectros e vieses sócio-econômicos apontando para o mesmo problema sistêmico, o discurso da meritocracia não é só falacioso, é estúpido e cruel. Persistir nele é varrer o real problema para debaixo de um tapete velho, desbotado e carcomido, que também tem seus dias contados.