24 de novembro de 2012

L'exception triviale




- Seria tudo tão melhor se cada um se colocasse no lugar do outro!

- Diga isso aos ricos, bonitos, inteligentes, saudáveis e aceitos quando O Outro for pobre, feio, estúpido, inválido e execrado. Depois, reporte-nos o resultado. Aí, então, conversamos.


 

17 de novembro de 2012

E se você fosse Ninguém?


'E se não fosse assim? E se fosse de outro jeito?', é o que, quase sem querer, quase sempre querendo, nos perguntamos, uma vez aqui, outra acolá. De "E se" em "E se" pode-se montar um moisaco de algoritmos. Algo parecido ao que o diretor e roteirista Jaco Van Dormael fez no drama de ficção científica belga/ francês/ germano/ canadense "Mr. Nobody", em 2009, ao "brincar" bem sucedidamente com o "caos" e a "aleatoriedade" do Efeito Borboleta na Teoria do Multiverso (realidades paralelas), de acordo com a Teoria M das 11 dimensões superpostas e antigas filosofias e doutrinas como o Taoísmo e o Budismo, para nos falar de escolhas e de possibilidades humanas.


O filme, aclamado nos circuitos cult da crítica de arte e aplaudido em festivais europeus como o 66º Festival de Veneza, traz um argumento complexo o suficiente para confinar o filme no "ostracismo do cinema intelectual", se não fosse pela própria complexidade do argumento. O que é, no mínimo, contraditório, não? Não em se tratando de Mr. Nobody... Que conta a história de Nemo (em latim, "Ninguém"), personagem do bem disposto Jared Leto, que acorda com 118 anos em um mundo onde os humanos descobriram a "fórmula da imortalidade". Sendo a última pessoa a morrer de velhice, Nemo é atração de um reality show, que o acompanha em seus dias finais. A vida de Nemo, o "sem nome", é uma incógnita para esse mundo e logo inicia-se uma tentativa de descobrir quem Mr. Nobody de fato é, através da indução hipnótica e de entrevistas. No entanto, o passado de Nemo, ou o que quer que seja, revela-se tão confuso quão misterioso é seu presente.

Valendo-se de narrativas diferentes, contextualizadas de forma não linear, Van Dormael projeta na tela um conjunto de trajetórias e seus prováveis desdobramentos dentro de um mosaico de realidades possíveis, a partir das escolhas recriadas por Nemo. Escolhas das quais fugiria se pudesse, uma vez que 'tudo se move a partir delas' e, com o movimento, sobrevém o efeito colateral do "Devir", sem determinação que lhe precise, sem freio de mão que o neutralize, sem volta que o contorne. Até que em dado momento, perto do fim (seria mesmo?), Mr. Nobody diz: "No xadrez, é chamado de Zugzwang ("enrascada")... quando a única alternativa viável é não se mover" e assim dizendo, como Fritjof Capra em "O Tao da Física", faz um paralelo com o pensamento budista que atesta:
  
"Quando a mente é perturbada, produz-se a multiplicidade das coisas; quando a mente é aquietada, a multiplicidade das coisas desaparece".
E com as palavras de Lao-Tsé, quando disse: 

"Através da não-ação, tudo pode ser feito".

Caos, aleatoriedade, entropia, o Efeito Borboleta, a Teoria M e a viagem no continuum espaço-tempo, humanisticamente transformados em prosa e verso a partir de sua principal referência, o homem. Para um filme que aborda os anseios e medos humanos tendo o relativismo paralelo como veículo, que usa o efeito borboleta dentro de cada possibilidade 'narrada', que pincela as 6 ou as 7 dimensões compactadas da Teoria M, lançando-nos a pergunta "Como poderemos diferenciar o real da ilusão?", estar velho ou estar jovem - e esse é o segredo - SÃO EXATAMENTE A MESMA COISA e NADA AO MESMO TEMPO. 

"Venha ver. É areia. O menino a está desfazendo. Ele não precisa mais. Antes, ele era incapaz de fazer uma escolha, porque não sabia o que aconteceria. Agora que ele sabe o que acontecerá, ele é incapaz de fazer uma escolha. 

O mais significativo de tudo? A gargalhada do protagonista ao ESCOLHER recuar-se no Tempo e, assim, "criar" mais uma possibilidade dentro de um universo de inúmeras delas. Cheshire, o GATO QUÂNTICO, aprova.

Mr. Nobody é assim mesmo: para uns,  um filme 'cabuloso', para outros, uma equação humana com pontos quânticos de interrogação e de exclamação. 

ÚLTIMAS PALAVRAS:

Este é o dia mais bonito da minha vida.
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E no "Ninguém Sabe Qual é a Resposta" de hoje...:




O que havia antes do Big Bang? Bem, não havia um antes. Porque antes do Big Bang, o tempo não existia. O tempo é resultado da expansão do universo. Mas o que acontece quando o universo pára de se expandir, e o movimento é reverso? Qual será o tempo natural?

Se a Teoria das Cordas está correta e o universo possui nove dimensões espaciais e uma dimensão temporal, então, podemos imaginar que no começo todas as dimensões estavam embaralhadas e, durante o Big Bang, três dimensões espaciais, as que conhecemos como alta, baixa e morte, e uma dimensão temporal, que sabemos que é o tempo, implodiria. As outras seis permanecem juntas.

Se vivemos num universo com tantas dimensões, como podemos fazer a distinção entre ilusão e realidade?

O tempo, como conhecemos, é a dimensão que vivemos, em apenas uma direção. Mas se as outras dimensões não forem espaciais, mas temporais? Se você mistura o purê de batatas e o molho, não pode separá-los depois. É para sempre. A fumaça sai do cigarro do papai, mas nunca volta a entrar. Não podemos voltar. Por isso é difícil fzer escolhas. É preciso fazer a escolha certa. Enquanto não se escolhe, tudo permanece possível.

(...)

Por que a fumaça nuncap retorna para o cigarro? Por que as moléculas se separam? Por que uma gota de tinta derramada nunca se reforma? Porque o universo movimenta-se para um estágio de dissipação.

Esse é o principio da entropia, a tendência do universo de desenvolver-se para um outro estado de crescente desordem. O princípio da entropia está relacionado com a flecha do tempo, resultado da expansão do universo.

Mas o que acontecerá, quando forças gravitacionais não puderem equilibrar as forças de expansão?

Ou se a energia do vazio quântico se provar muito fraca?

Nesse momento o universo pode enfrentar contrações, o "Big Crunch".

Então, o que se tornaria o tempo? Tudo se reverteria?

Ninguém sabe a resposta.

Por não saber que era impossível...


... foi lá e fez a louca!



10 de novembro de 2012

V... de Verdade



Enquanto isso, nas proximidades de Betelgeuse, em um ponto Anonymous...:





"

Bom dia, Londres. Primeiro, desculpem a interrupção. Eu, como muitos de vocês, aprecio os confortos do dia-a-dia, a segurança do familiar, a tranqüilidade da rotina. Gosto disso como todo mundo. Mas no espírito da comemoração em que eventos do passado associados à morte de alguém ou ao fim de uma luta terrível são comemorados com um belo feriado, pensei em marcar esse 5 de novembro, um dia que, infelizmente, já foi esquecido, aproveitando um pouco do tempo de vocês para bater um papo.
Há aqueles que não querem que falemos. Desconfio que estejam dando ordens ao telefone e homens armados virão logo. Por quê? O governo pode usar violência em vez do diálogo. Mas as palavras sempre manterão seu poder. As palavras oferecem um significado e, para aqueles que ouvem, a enunciação da verdade. A verdade é que há algo terrivelmente errado com o país. Crueldade e injustiça, intolerância e opressão. Se antes você tinha liberdade de se opor, pensar e falar quando quisesse, agora você tem sensores e câmeras obrigando-o a se submeter. 

Como isso aconteceu? Quem é o culpado? Há alguns mais responsáveis que outros e eles vão arcar com as conseqüências mas, verdade seja dita, se procuram culpados basta vocês se olharem no espelho.

Eu sei por que vocês fizeram isso. Sei que tinham medo. Quem não teria? Guerra, terror, doença. Uma série de problemas se juntaram para corromper sua razão e afetar seu bom senso. O medo dominou vocês e vocês recorreram ao novo alto chanceler Adam Sutler. Ele prometeu ordem. Prometeu paz. Tudo o que ele pediu em troca foi seu consentimento silencioso.

Ontem, tentei dar um fim ao silencio. Ontem eu destruí o Old Bailey para lembrar ao país o que foi esquecido. Há 400 anos, um grande cidadão quis gravar o 5 de novembro para sempre em nossa memória. Ele queria lembrar ao mundo que imparcialidade, justiça, liberdade são mais que palavras, são perspectivas. 

Então, se vocês não viram nada, se desconhecem os crimes deste governo, sugiro que deixem o 5 de novembro passar em branco. Mas se vocês vêem o que eu vejo, se sentem o que eu sinto e se buscam o que eu busco peço eu estejam ao meu lado daqui 1 ano na entrada do Parlamento e juntos daremos a eles um 5 de novembro que nunca, jamais será esquecido.

"



... Na mesma fração de continuum espaço-tempo, no diário de bolso de um mascarado auto-nomeado Rorschach...: (Clique nas imagens para amplia-las).









 


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Como todos os mais de 7 bilhões de terráqueos devem saber, V de Vingança (V for Vendetta, no original) é uma adaptação da Graphic Novel homônima, publicada entre 1988 e 1989 pela empresa DC Comics. Escrita pelo genial Alan Moore e ilustrada pelo não menos formidável David Lloyd, a história do anárquico V (de Visceral) ganhou vida filmográfica no ano de 2006,  pelas mãos dos irmãos Wachowski, que produziram a película, e pela direção de James Mcteigue. 

O filme segue à Graphic Novel em sua abordagem contestatória dos valores políticos e sócio-culturais da Sociedade Capital, porém de forma muito mais suavizada em relação à história per si, contada pelo declaradamente anarquista Alan Moore. Compreensível, aliás, que o tenham feito: Hollywood prefere Dom Quixote a Guy Fawkes. Suficiente dizer que, enquanto no filme o controle estatal é menos marcante que no roteiro original, na Graphic Novel esse mesmo controle e o próprio sistema lembram algo do sufocante e impressivo universo huxleyano de "Admirável Mundo Novo". 

Em que pese a suavização da linguagem (questões culturais e comerciais, insiera aqui ........ sua opção) e as limitações impostas pelo 'timing' (2h de filme nunca poderiam comportar os 10 volumes de história), a essência do argumento parece vibrar a mesma mensagem do "Free your mind, free your soul", como pilar do processo revolucionário de libertação ideológica, potencialização da consciência de grupo e valorização da individualidade. Parece?