“Quando perceber que, para produzir,
precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar
que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores;
quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência,
mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo
contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a
corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em
auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua
sociedade está condenada”. (Atribuída a Ayn Rand, filósofa, escritora, dramaturga e roteirista de origem judaico-russa, naturalizada norte-americana, criadora do sistema filosófico "Objetivismo")
Ao fim de cada eleição, tendo ganho ou perdido um
candidato, independentemente do código de barras partidário que o
identifica ideologicamente, qualquer um que subir ao
"trono" da Administração Pública responde a um único patrão: o povo.
Patrão, diga-se, que vem deixando muito a dever a si mesmo, do topo do seu
comodismo, afrouxando as rédeas em torno daqueles a quem elegeu não para
mandar, mas para SERVIR. Porém, se o patrão deixa o seu negócio nas mãos dos
prepostos que elege, sem mostrar-lhes quem realmente manda, os prepostos
tomarão gosto pelo poder e, fatalmente, aliando-se aos que lhe seguem os
interesses mais ocultos, encontrarão na política sem escrúpulos a forma mais
que viável para alcançar os fins.
Mais dia menos dia, os representantes e seus apoiadores, fortalecidos
pela ganância e ébrios de poder, amiúde e muito sutilmente relegarão o patrão
ao ostracismo da ignorância, encarecendo-o de verdades, alimentando-o com
mentiras, iludindo-o com números e ações de bonita fachada, de modo a
entorpecê-lo ante o muito por se fazer e neutraliza-lo ante a realidade dos
processos políticos de hábil tendenciosismo que se valem os seus para alcançar
objetivos menos lícitos.
O povo não deve temer seu Estado. O Estado é que deve temer o seu
povo. (in V, de Vingança)
Sem o controle
exercido pelo "patrão", a corrupção de seus prepostos - essa oculta
sob camadas de sofisticação discursiva e ações paliativas pintadas com as cores
de um salvacionismo utópico - enfraquecerá a alma do negócio. Sem que o
"patrão" controle o que de direito, exigindo de seus representantes o
cumprimento das garantias que lhe beneficiam e das quais ele é o guardião, a
administração de seu negócio, então exercida por seus prepostos, será, toda
ela, tomada pelo ímprobo, pelo malversador de recursos, pelo negligente, pelo
prepotente e arrogante, pelo desumano. Pela recorrente omissão do
"patrão", o que deveria ser inadmissível e insustentável torna-se
regra: o negócio passa a ser utilizado como meio de se facilitar o
enriquecimento de poucos às custas de outros tantos - sem emprego, sem
alimento, sem teto, sem saúde, sem dignidade humana - e perpetuar o poder de
uma minoria sobre o verdadeiro e único maioral: o "patrão".
Três tipos humanos há no mundo:
Aqueles que, sabendo, agem;
aqueles que, tomando ciência, assistem aos acontecimentos;
aqueles que, não vendo e tampouco sabendo, se espantam que tenha acontecido algo.
Embora o conhecimento da
realidade não seja automático (um fenômeno que simplesmente
"acontece") - pois para ver, não basta ter olhos, é preciso tomar a
decisão de abri-los e, uma vez abrindo-os, permitir "simbiosizar-se"
com as informações, valendo-se da razão como mecanismo integralizador - o
homem tem a opção de perceber a realidade em seus vários níveis (a aparência
do aparente, a aparência do oculto, o oculto da aparência e o oculto do oculto)
ou de fugir dela; tem a livre escolha de entendê-la, ampla e profundamente, ou
de mascará-la com visionismos moldados "a sua imagem e
semelhança".
Era uma vez quatro pessoas que se chamavam TODO MUNDO, ALGUÉM,
QUALQUER UM e NINGUÉM. Havia um importante trabalho a ser feito e TODO
MUNDO acreditava que ALGUEM é que iria executá-lo. QUALQUER UM poderia fazê-lo, mas NINGUÉM o fez. ALGUEM ficou
aborrecido com isso, porque entendia que a execução do trabalho era
responsabilidade de TODO MUNDO. TODO MUNDO pensou que QUALQUER UM
poderia executá-lo, mas NINGUÉM imaginou que TODO MUNDO não o faria. TODO MUNDO culpou ALGUÉM, quando NINGUÉM Fez o que QUALQUER UM poderia ter feito!
(Texto extraído do livro O que podemos aprender com os gansos, de Alexandre Rangel. 7ª Edição, pg 178)
Ao
"patrão" cabe conhecer a realidade do seu "negócio", tendo
a frente a difícil tarefa de descobrir as características ou propriedades dos
fatos e das pessoas como são, guardando consigo o discernimento
necessário à prova maior de separar aquilo que pode mudar (idéias, ações,
representantes) daquilo que não pode (a livre escolha de cada um).
De tanto ter o governo que merece, um dia - mais dia ou não - o povo dará ao seu governo o que lhe for merecido.
Quando, enfim, o "patrão" voltará de férias e dará aos seus
prepostos o merecido?
Quiçá quando a poeira do liberalismo infiltrada nos órgãos administrativos
se assentar após ter-lhes modificado o aspecto político?
Ou quando tudo o que serve para falsear as administrações, inclusive
as leis, forem por terra?
Quiça quando os dirigentes deixarem, por vontade própria, de
atuar como testas-de-ferro de interesses opostos aos do seu
"patrão"?
Ou quando quem os elegeu deixar de ser escravo mental de um
sistema brutalmente capital?
Esse tempo - miraculosamente - chegará?
Quiçá quando o poder educativo da família e a formação de mentes
independentes forem reduzidos a nada; e a pobreza, material e de espírito, for elevada a níveis cataclísmicos?
Ou, talvez, quando a cegueira do "patrão", absurda e irracional,
jogada da direita para a esquerda ao embalar de decisões que lhe fogem do controle, e conduzida pela ignorância, medo, cupidez e ganância
material (suas fraquezas), for explorada por aqueles que, desde o
berço (familiar ou político), foram instruídos a tornar-se
"dominadores"?
Mas e se - retoricamente 'e se' -... esse tempo chegou?
Scaramouche - o "patrão" - cumprirá o seu destino?
"Procurai
a verdade, e a verdade
vos libertará".