23 de agosto de 2017

A inevitável maturidade do tempo


"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!"

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TEMPO QUE FOGE, de Ricardo Gondim, extraído do livro "Creio, Mas Tenho Dúvidas" (pelo que verifiquei o texto acima foi atribuído erroneamente ao escritor brasileiro Mário de Andrade sob o título O Valioso Tempo dos Maduros, e também a Rubem Alves e a Mário Coelho Pinto de Andrade, escritor angolano confundido com Mário de Andrade).

Declamação de Antonio Abujamra, ator.


 

14 de junho de 2017

Think

 
"Entre corruptos de todas as siglas, é impossível que um só partido político detenha o status de "corrupto" e, no mínimo, questionável que só um ou dois desse único partido sofram os rigores da lei."
 
 

19 de maio de 2017

Time... remains on my side



Quando comparo o passado da nossa história política com o presente, hoje a impressão é de que estamos pior que em 1964 e nos anos de opressão ditatorial que assolou o país. Pior por um único e imenso motivo: o descrédito do povo em suas instituições, representantes eleitos, autoridades investidas, descrédito em seu próprio sistema legal. Ao contrário de nossos pais, e dos pais de nossos pais, as razões para lutar, por mais suficientes e urgentes que sejam, vão obscurecendo e se tornando obsoletas antes de se esgotarem. Antes mesmo de irem as vias de fato. Os filhos dessa geração nascem presos de um individualismo cada vez mais enfermiço e da desesperança crescente, vão colecionando desmotivações em série e abraçando o design de um futuro degenerado como a um velho amigo. Hoje, o cinismo é alimento para o conformismo - "não vale a pena, é tudo farinha do mesmo saco" - e é difícil até mesmo condená-lo (o cinismo) quando nós mesmos, os que vieram antes, olhamos para o labirinto sem paredes em que somos confinados - o sistema "Sybil", o modum productio, a Matrix, - e não conseguimos achar saída para centenas de milhões de pessoas. Não há uma saída, mas válvulas de escape. Reformas que o próprio sistema assimila e que o redefinem, suplantando-se como uma inteligência artificial de um deus ex machina.  

Nós, os que vieram antes, também estamos cansados. Cada vez mais aversos ao pensamento de insistir no mais do mesmo quando o mesmo leva ao mais de si. Se somos francos, o que hoje nos mantém de pé e nos empurra a seguir, é a persistência da própria vida. É pelo instinto de sobrevivência que persistimos no labirinto de paredes invisíveis, é o senso de prevalecimento que não nos deixa entregar os pontos.

Porque algo precisa ser feito.

Pelo simples fato, inevitável condição de quem respira, de se estar vivo.
E porque não avisaram da falha no sinal da Matrix. Ela deve ter sido plantada ali por um motivo: toda vez que nos movemos contra o sistema, o sistema cria defesas e, quando ultrapassado, se força a um upgrade, um que incorpore reformas de sua velha estrutura. Isso parece fortalecê-lo, torná-lo imbatível como uma intangível Hidra cujas cabeças decapitadas se refazem. Mas o que não é dito, o que é quase que completamente esquecido, o que bilhões não contabilizam - enterrados sob toneladas de distração - é que qualquer movimento contra o sistema põe em movimento a transformação da mentalidade individual e de grupo.

Não é algo que se possa medir em uma única vida, a transformação, mas é algo que parte de um princípio, vai ganhando força e atravessando os corredores do tempo, arrastando, como uma onda, as coisas confinadas no espaço do mundo das coisas.

Não há escapatória.
É uma fatalidade projetada:
Ou paramos e somos definidos pelo sistema ou nos movemos de lugar e o redefinimos.


Quando comparo o passado da nossa história política com o presente... uma palavra se auto define:
AVANTE!