6 de fevereiro de 2014

Aula de hoje: Padronismos padrônicos de padrão comportamental


Enquanto isso, na casa de Fraulein Joanna...

- Essa é velha: comparar a imagem da mãe-escultural com a mãe-cheia-de-desculpas, medir forças entre elas para ver quem tem razão e fazer do resultado um padrão.

- Então, é a mesma coisa que colocar a imagem de um pobre sofredor ao lado da imagem de um rico esbanjador, e deduzir com isso que o pobre não está no lugar do rico porque é um preguiçoso - como nos quer fazer acreditar a ideologia capital. Mas nós sabemos que não é por aí. Há vários aspectos envolvidos (as condições do meio, as condições da pessoa, as oportunidades, etc.).

O mesmo pode aplicar-se às imagens das mães, uma escultural e a outra, "normal". Alguns dirão: "A mãe fora de forma tem preguiça, é relaxada, olha só o que a outra consegue fazer com o mesmo número de filhos. Basta ter força de vontade!". Só que não. Isso é ser apelativa e absurdamente simplório.

Veja, para uma mulher dar conta de três meninos pequenos, mais o trabalho, a casa, pequenos deveres cotidianos, idas e vindas, e ainda assim cultivar (porque isso demanda trabalha diário) um corpo escultural e uma pele que beira à perfeição, ela, no mínimo (no mínimo) deve receber ajuda externa. E outros aspectos entram aí, como o trabalho a que ela se dedica, e se tem mesmo a necessidade de ter um. Vai que ela seja uma personal trainer? Vai que ela seja uma modelo/manequim? Vai que o trabalho que ela realiza exige a manutenção de um corpo escultural?

Então, imagine uma mulher, casada ou solteira, que trabalha em média 8 horas diárias; some-se a isso o tempo que gasta de ida e de volta ao local de trabalho; acrescente-se o tempo que ela vai se dedicar aos afazeres domésticos e que são muitos e cansativos (e considerando que ela, como a maioria das mães desse Brasil, não ganha o suficiente para pagar uma empregada doméstica); agregue-se as idas e vindas ao supermercado, médico, toda essa agenda de compromissos necessários; e se ela for casada, some-se também o marido na lista de afazeres (a maioria não ajuda em casa). Também não esqueça de incluir na equação o metabolismo, que varia de mulher pra mulher - fulana 'afina' após o parto, enquanto beltrana acumula líquidos e a sicrana engorda nesse período. Claro, há muito mais coisas acontecem na vida de uma mulher comum, todo santo dia, mas digamos que isso seja um apanhado de itens elementares.

Agora, dentro dessa realidade apertada, imagine uma mulher com três filhos pequenos. Faça os cálculos das 24 horas/dia e deduza as 8 horas de trabalho, mais as horas de idas e vindas do trabalho, mais os afazeres domésticos (cozinhar, lavar louça, varrer casa, ir às compras, cuidar das crianças, dependendo do trabalho que tem, fazer os preparativos para o dia seguinte, etc, etc, etc.). Oh, e não esqueça de incluir aí algo que geralmente passa despercebido, mas que é essencial: as horas de sono dessa mãe. Depois de feito isso, se pergunte se essa mãe não cultiva um corpo escultural porque "vive de desculpas".

É impossível que ela mantenha um corpo bem definido? Não, não é. Não sei exatamente como e onde, no meio de tantos afazeres (sendo o principal, a criação e a educação dos filhos), mas é uma possibilidade.

- Impossível de acreditar e de aceitar é que esperem isso dela, que o exijam ou que façam deduções e comparações desproporcionais entre realidades díspares. 


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