3 de outubro de 2012

Family Trivia





A família é o primeiro meio social de uma criança. Como axioma, pode-se afirmar que a família constitui a base da formação cognitiva, valorativa, afetiva e comportalmental do futuro adulto.

Não há dúvidas, ou não deveria haver dúvidas, sobre a sua importância nos contextos humano e social. O grupo familiar é aquele que fornece ao indivíduo os principais elementos, objetivos e subjetivos, que lhe servirão de referência para as escolhas que fará no futuro.

A família não determina o caráter de um ser humano, assim como a condição sócio-econômica também não pode determinar (se o fizesse, todo pobre, de regra, seria bandido), mas pode, e assim o faz, influenciar de forma preponderante na formação e desenvolvimento da personalidade do indivíduo.

As satisfações e insatisfações, conceitos e pré-conceitos, habitudes e perspectivas familiares são fatores fundamentais para a composição da bagagem intelecto-moral da criança e adolescente. 


Jacques Lacan, tão francês quanto psicanalista, dizia que a "família é, entre todos os grupos humanos, aquela que desempenha um papel primordial na transmissão de cultura. Se as tradições espirituais, a manutenção dos ritos e dos costumes, a conservação das técnicas e do patrimônio são com ela disputadas por outros sociais, a família prevalece na primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da língua acertadamente chamada de materna. Com isso, ela preside os processos fundamentais do desenvolvimento psíquico".

A família, como primeira sociedade e núcleo transmissor de conhecimentos, detém a responsabilidade pela transmissão das regras de conduta social e valores de caráter geral, que servem para inserir e situar o indivíduo na sociedade; regras de conduta que servem para a vida, visões de mundo que nortearão o ser humano.
 

Não surpreende, no entanto, que os valores humanos venham sofrendo uma "transformação" ou, melhor dizendo, uma "deformação" em seu cerne, na proporção em que a família, enquanto base psico-social, vai se desestruturando - na perspectiva dos menos otimistas, se esfacelando. Seria fruto da "modernidade"?

Valores humanitários são "repaginados" e ganham "nova encardenação", com as "cores" de uma proclamada "modernidade", dentro de um cenário global de liberal radicalismo, onde, fatalmente, liberdade, libertinagem e permissividade tornam-se sinônimos; onde se aprende desde cedo a exigir para si mas não cumprir para com o outro; onde a frenética busca pela satisfação material e pelo empoderamento "statutário" torna-se medicamento prescricional para aliviar a crescente "vacuidade interior"; onde o diálogo entre pais e filhos adquire ares de uma utopia risível, e onde a aproximação intelecto-afetiva destes se limita, muitas vezes, a esparsos encontros acidentais no corredor da casa e conversas trivialistas. Uma desestruturação 'intelecto-moral' que parece resultar de um pacto silencioso de mediocridade celebrado no inconsciente coletivo.

Essa mediocridade humana é parte do atual quadro evolutivo humano e se imbrica com o Sistema Operacional de mundo, que impõe um estilo de vida no mínimo questionável - e que, como fases, também está sujeito a passar. Nesse biofeedback, realidade cria consciência e consciência fabrica realidade, partindo daí o entendimento de que família e sociedade se retroalimentam com valores ideológicos, em "eterno retorno"... Que valores ideológicos são esses que imperam nas famílias de nossa época? O que os pais vêm transmitindo (ou deixando de transmitir) aos filhos? O que seria "verdadeiro, útil e bom" para os filhos, e com base em quê? Quais fatores impedem a família de situar os filhos naquilo que é considerado "verdadeiro, útil e bom" para formação de seu caráter?
 

Como construir o Homem de Bem (ou lançar as bases de sua edificação) tendo a família como "escola primária", nessa que parece ser uma época marcada, em parte, pelo apagar das luzes que, outrora, iluminaram a edificadora Razão?



Nenhum comentário:

Postar um comentário