24 de outubro de 2012

Delirismos de consumo humanista de um super ego pós-moderno





- O que é isso que você está lendo?

- Uma nota de rodapé.

- O que ela diz?

- Que o feminismo é o extremo oposto do machismo. Preceitua, de forma ampla e abrangente, a isonomia dos direitos entre homens e mulheres. Direitos iguais para ambos os sexos, sem distinção...

- Mas não é relativo?

- Qual parte?

- Direitos iguais para todos, indistantamente. Digo, direitos iguais sob o ponto de vista de qual dos lados? Um exemplo: alistamento militar. Homens obrigatoriamente se alistam; mulheres, não. Nesse caso, para efeitos de isonomia, o que valeria? O homem ter o direito de recusar o serviço militar, ou a obrigação da mulher de se alistar?

- Se homens ganham melhor que mulheres, desenvolvendo  o mesmo tipo de função e com o mesmo nível de capacitação profissional, o que seria justo para ambos? Diminuir o salário do homem para equiparar-se ao da mulher, ou aumentar o salário da mulher para equipar-se ao do homem?

- Dar o estritamente justo de acordo com a função desenvolvida e a capacidade profissional, sem distinções.

- Ou seja, aumentar o salário da mulher para equivaler ao do homem, no desempenho do mesmo cargo, função ou ocupação. 

- ... E o alistamento obrigatório seria opcional. Não por ser menos machista ou mais feminista, mas por ser o estritamente justo para ambos.

- Isso seria "isonomizar": encontrar o denominador comum entre os extremo, aquilo que se aplica na mesma proporção que se aplica ao outro.

- Mas e quanto às diferenças substanciais entre os sexos?

- Se refere ao psicossoma? Distinções orgânicas e psíquicas entre homens e mulheres?

- Exato. Elas não contam?

- É aí que entra a 'relatividade' da aplicação do que é justo, pois a justiça trata igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na proporção da sua desigualdade. Trocando em miúdos, homens e mulheres são humanos e nisso consiste o seu maior denominador comum, porém possuem diferenças elementares de ordem orgânica e psíquica, que, por sua vez, influenciam a sua formação cultural. Essas diferenças são consideradas, porque também elas fazem parte de cada homem e de cada mulher.

- O que está me dizendo é que a "isonomização" dos direitos trabalha em duas frentes: equipara homem e mulher, mas não descarta individualidade, com toda a sua teia de singularidades.

- Holístico, não? Veja, quando falamos da igualdade de direitos, falamos necessariamente de uma perspectiva universalista. Tome por axioma o nosso universo. Ele é um conjunto de coisas visíveis e invisíveis. O fato dessas coisas se diferenciarem umas das outras pela própria individualidade não torna o universo menos universo, e sim o confirma. Agora imagine: um belo dia, nosso universo se depara com outro universo e vê nele coisas diferentes das suas. Porém, por saber-se universo e entender que o outro também é universo, nosso universo compreenderá que essa diferença de coisas não o torna melhor ou pior que o outro. São universos, em sua conjuntura. Universos de coisas diferentes, em sua individualidade.

- O mesmo se aplica ao homem.

- A mulher.

- ... A essa bifurcação de mão dupla que chamamos de humano.


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