7 de setembro de 2012

Donnie e o Gato de Schrodinger, digo, Coelho de Alice, digo... Coelho!



Textículo proibido para os que ainda não conhecem Donnie e sofrem de histeria crônica ao deparar-se com SPOILERS... que acontecerão, exatamente, em 3,2,1...








"Donnie Darko" é, como "A Caixa", mais um ótimo filme de Richard Kelly. É de 2001, mas a história é ambientada nos anos 80, o que reforça a atmosfera densa e “perturbada” daquela época (ah, os anos 80!).


Logo no início, quando a turbina de avião cai e dizem não saber de onde veio, porque não se tinha notícia da queda de um avião, eu pensei: “Ha! A turbina “caiu” de um wormhole!”. Ri do meu próprio pensamento mas não demorou muito para que meu delirium se confirmasse: era a teoria da viagem no espaço-tempo em curso, de acordo com a Filosofia Quântica. 

Os próprios “buracos de minhoca” (wormholes) fizeram sua aparição no filme, em tamanho menor: o tubo de energia fluídica que saia do peito do protagonista era, nada mais nada menos, que uma “réplica” em miniatura de um “buraco branco dimensional”.  E aquilo significava muito. É uma inteligente metáfora para o que somos: micro universos e portais de energia quântica, capazes de nos sintonizar uns com os outros energeticamente, como Donnie fez com sua namorada. O fato do tubo de energia se projetar no tempo-espaço antes de seu dono fortalece ainda mais a idéia de que existimos em realidades quânticas paralelas. O Donnie Darko do presente tornava-se, assim, o Donnie Darko do passado em relação ao tubo, que, ao se projetar à frente de seu “dono”, tornava-se a representação de sua porção futura.

Se você leu A Profecia Celestina, de James Redfield, lembrará de algo semelhante. No livro, o autor descreve uma experiência peculiar, onde via um feixe de luz sair de seu peito e estender-se pela sala em direção a outro cômodo da casa. Seguindo o “tubo de luz”, ele viu que o mesmo ia de encontro à pessoa na qual ele pensava naquele momento e se fundia com o feixe de luz dela. E percebeu que o “tudo de luz” que saia de seu peito era a extensão de sua alma, viajando no tempo-espaço até chegar onde queria: o objeto do seu pensamento e querer.

O mesmo parecia acontecer com Donnie Darko e depois com sua namorada, quando surgiu na cozinha segundos depois de seu próprio “tubo de energia”, que se conectou com o de Donnie, absorvendo-o.

No final de Donnie Darko, passado, presente e futuro se entrelaçam, quando descobrimos que a turbina de avião que caiu em cima do quarto de Donnie veio do futuro, exatamente 28 dias a frente de quando a história começa. A turbina pertencia ao avião onde a mãe de Donnie estava, e atravessou um wormhole até chegar 28 dias antes, no presente (eis daí o porquê de ninguém saber onde estava o avião). O mais provável é que a mãe de Donnie tenha morrido NESSE futuro onde Donnie ainda é referência existencial. Quando voltou no passado e deixou de existir como referência, esse futuro, onde a mãe de Donnie, a sua namorada e o “coelho sinistro” morrem, também deixa de existir. 

A questão que você deve matutar é: se Donnie teria morrido de qualquer forma devido à queda da turbina do avião, por que o ‘coelho sinistro’ (que é uma sátira ao coelho branco de Alice no País das Maravilhas) o salvou da morte, induzindo Donnie a sair do quarto, para então avisá-lo que seu mundo acabaria em 28 dias... quando, na verdade, já tinha acabado? 

Uma hipótese é de que o “coelho sinistro” (seria ele o próprio Donnie?) veio do passado (pois se tivesse vindo do futuro haveria como alterá-lo ali mesmo, permitindo que Donnie continuasse no quarto, até que a turbina de avião caísse). Mas a história já tinha acontecido e vinha se repetindo nessa realidade, como se Donnie caísse no mesmo wormhole  uma vez após a outra (como uma versão de Alice caindo no mesmo túnel do tempo, tendo que voltar a viver o mesmo “sonho”). O coelho teria vindo para servir de guia a Donnie (como o coelho branco de Alice no País das Maravilhas). A idéia seria a de fazer com que Donnie percebesse que estava vivendo em um ‘loop’, um “eterno retorno”, e ao perceber isso, rompesse com esse paradigma cortando o “mal pela raiz”, ou seja, deixando de existir. 

Ou, quiçá, Donnie fosse um "precog" desvelando, sem querer (ou querendo sem saber), o futuro, tendo por guia a versão da "Morte" saída do subverso do "País das Maravilhas". Sandman aprovaria.

O filme parece confuso (e de difícil interpretação), porque usa a teoria da viagem no espaço-tempo segundo a Física para ambientar a história de auto-descoberta de Donnie. Eu diria que a história de Donnie Darko é uma versão surreal de Alice no País das Maravilhas. Digo, mais surreal ainda. Graças à Teoria Quântica e à fenda dupla de Young... e ao duplamente sempre bem disposto Gato de Shrödinger.
 



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A experiência da dupla fenda ou experiência de Thomas Young, pelo fantástico Dr. Quantum.


Dizia Feymann:  Quem não arregalar os olhos diante da Física Quântica, francamente não a entendeu!

Schrödinger foi cruel ao dar um gato encaixotado de exemplo. Piora ainda mais quando o gato tem 50% de chance de morrer envenenado. Ah, filho da p...! Não o gato, Schrödinger.

Para você, que perdeu alguns minutos da sua preciosa ilusão do tempo lendo os devaneios tecidos sobre o filme "A Caixa", deve estar exausto de saber que a teoria de Schrödinger se baseia na natureza dual das partículas atômicas, que são ao mesmo tempo ondulatórias e corpusculares, e tem um pé na jaca chamada Teoria da Incerteza de Heisenberg. Até aí tudo bem (tudo bem?!). A confusão realmente começa quando Schrödinger nos coloca diante deste paradoxo: se o gato dentro da caixa estiver vivo ou morto, isso vai depender do observador.

O que?! Mas que merda é essa?! Não é o observador que vai disparar ou não o dispositivo interno! Como, diabos, um inocente observador determinará o futuro de um pobre gato encaixotado?! Filho da p..., Schrödinger!

Mas veja, mesmo confuso é “simples” (Mas, hein?!). Na Física Quântica, o observador é também uma referência. Ele interage com a realidade em seus diversos níveis de densidade. Segundo a Física Quântica somos todos corpos energéticos, compostos de partículas-ondas que interagem em níveis sutilíssimos e imperceptíveis (até mesmo inimagináveis) de ‘existência’. No exemplo de Schrödinger, o gato na caixa não está “a salvo” do que se passa no exterior. O dispositivo colocado na caixa é capaz de detectar a oscilação corpuscular de partículas atômicas do tipo alfa (de carga positiva e capacidade de penetrar facilmente na matéria, devido a sua grande velocidade), de modo que haverá duas hipóteses: ou o gato ficará vivo ou gato morrerá, findo o prazo estabelecido da experiência.Ou seja, a chance de estar vivo ou morto fica meio a meio. E aí entra o grande paradoxo: até que o observador verifique o interior da caixa, o gato estará vivo e ao mesmo tempo morto, tal como uma partícula que é corpórea e ondulatória indistintamente. 

Somente com a intervenção do observador ao abrir a caixa e constatar o estado do gato, é que o paradoxo se quebra.

É uma teoria interessante. Não para o gato, claro. Estamos falando pura e simplesmente de possibilidades e paralelismo. A incerteza, no caso, só vai até o momento em que o observador abre a caixa. Quando ele abre a caixa e vê o resultado da experiência, a incerteza... some. 

Então, o que acha? Pau no cu do Schrödinger? =]



4 comentários:

  1. Eu vou assistir esse filme única e exclusivamente por causa dos spoilers. Depois te digo se concordo com a sua teoria.

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  2. Demorou, Maurice, mas ainda em tempo! Também sugiro assistir a outro filme do Richard Kelly, "A Caixa". Se quiser algo mais 'soft' e curtir Keira Knightley bancando a caçadora de recompensas, vá de encontro a "Domino". Depois me avise, para podermos "entrar pelo cu do pinto a dentro" - vulgo, tergiversar. ;]

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  3. Começando pelo final: "A Caixa" eu interrompi no começo do filme. Logo depois de ter entendido o pressuposto do roteiro e chegado à conclusão de que o filme - como cinema - não decola. Mas "Donnie Darko" conseguiu me segurar até o final, não sem antes eu ter ficado impressionado com o impacto do filme nos espectadores e ter lido outras opiniões a respeito.
    No que eu fiz bem, aliás, porque isso me certificou que a ideia do roteirista não foi totalmente compreendida, por mais que o diretor (que é a mesma pessoa) tenha se empenhado nisso. E aí sim, existe a meu ver uma chave cognitiva para esse filme. Talvez por ter tido experiências de estados alterados de consciência, isso ficou especialmente claro pra mim. Não é por acaso que o personagem principal passa por hipnose. Nem é casual a citação explícita que o diretor dá a esse detalhe. Uma experiência como a narrada no filme não é algo que esteja ao alcance do homem, mas a consciência disso sim. Quem já olhou para o mundo por meio de um estado de consciência (e não falo de drogas) que permita o tráfego por aquilo que é chamado comumente de "Déja Vu" por mais que alguns segundos, eu diria por horas e dias, entende a maneira como o autor descreveu os "wormholes".
    Visualmente eu tenho que é primária a maneira como o diretor resolveu isso, mas em termos narrativos é primoroso. Ele conseguiu transmitir a ideia de paralelismo dimensional por meio da *consciência que o personagem principal tinha disso. Não existe no filme nenhum outro fato que suporte, para Donnie, a certeza de que os fatos se dariam daquele modo. Apenas o que pode ser chamado de "consciência". No caso, claramente alterada e compreendida por meio da hipnose. Para quem, de algum modo, sabe como o personagem, que as coisas são assim (nem que seja um físico estudioso de fenômenos quânticos) é primoroso.

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  4. Pena ter parado o filme antes de "abrir" A Caixa. Talvez, você tivesse uma surpresa. Ou talvez, não, apenas confirmasse o que eu disse no textículo aqui publicado contendo algumas de minhas impressões. Ou, como o gato de Schrondiger, assumisse as duas coisas. Ou nenhuma delas. Vai ver, já fez isso quando pegou carona com Ches, o 'coelho', daquela vez em que "desceu e subiu" por um wormhole, enquanto noutro plano penduravam posteres de "Procura-se, vivo E morto", nos glitterados bambolês de Saturno. Bom e mau, o fato é que tudo acabou - ou teve início - quando contou-se até 5: 1, 2, 3, 4... 5! Abra os olhos. E fez-se luz.

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