Com
a chuva ora correndo, louca, em seu encalço, ora debulhando-se em lágrimas
sobre sua face, e o frio triturando-lhe os ossos sob a pele encharcada, ela
saiu, insone, de sua torre, rumo ao escuro da noite. Tendo a mão a fraca luz de
uma lanterna e ao chão os pés descalços, caminhou pelo corredor de sombras
abissais projetadas por algo de si sem nome que rasteja, revira-se e
some.
No
templo de uma clareira, palco alumbrado pelo sobrenatural, ela ergueu os olhos
para o breu do espaço e divisou estrelas na tela
apagada atemporal. Ergueu-se de sua miséria, afastou-se de toda dor, e, no vazio
preenchido por Delírio, mostrou-se bela. De olhos fechados, abriu-se para o
Insondável, pronunciando a sentença no tribunal da consciência:
"Culpada."
Sorriu
um sorriso torto. Gritou uma prece silente. Cortejou os deuses, provocou os
anjos. Erguendo os braços, em queda livre, aguardou.
Mas
o raio rasgante jamais chegou.
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