'E
se não fosse assim? E se fosse de outro jeito?', é o que, quase sem querer,
quase sempre querendo, nos perguntamos, uma vez aqui, outra acolá. De "E
se" em "E se" pode-se montar um moisaco de algoritmos. Algo
parecido ao que o diretor e roteirista Jaco Van Dormael fez no drama de ficção
científica belga/ francês/ germano/ canadense "Mr.
Nobody", em 2009, ao "brincar" bem sucedidamente com o
"caos" e a "aleatoriedade" do Efeito Borboleta na Teoria do Multiverso (realidades paralelas), de acordo com a
Teoria M das 11 dimensões superpostas
e antigas filosofias e doutrinas como o Taoísmo e o Budismo, para nos falar de
escolhas e de possibilidades humanas.
O
filme, aclamado nos circuitos cult da crítica de arte e aplaudido em festivais
europeus como o 66º Festival de Veneza, traz um argumento complexo o suficiente
para confinar o filme no "ostracismo do cinema intelectual", se não
fosse pela própria complexidade do argumento. O que é, no mínimo,
contraditório, não? Não em se tratando de Mr. Nobody... Que conta a história de
Nemo (em latim, "Ninguém"), personagem do bem disposto Jared Leto, que acorda com
118 anos em um mundo onde os humanos descobriram a "fórmula da
imortalidade". Sendo a última pessoa a morrer de velhice, Nemo é atração
de um reality show, que o acompanha em seus dias finais. A vida de Nemo, o
"sem nome", é uma incógnita para esse mundo e logo inicia-se uma
tentativa de descobrir quem Mr. Nobody de fato é, através da indução hipnótica
e de entrevistas. No entanto, o passado de Nemo, ou o que quer que seja,
revela-se tão confuso quão misterioso é seu presente.
Valendo-se
de narrativas diferentes, contextualizadas de forma não linear, Van Dormael
projeta na tela um conjunto de trajetórias e seus prováveis desdobramentos
dentro de um mosaico de realidades possíveis, a partir das escolhas recriadas
por Nemo. Escolhas das quais fugiria se pudesse, uma vez que 'tudo se move a
partir delas' e, com o movimento, sobrevém o efeito colateral do
"Devir", sem determinação que lhe precise, sem freio de mão que o
neutralize, sem volta que o contorne. Até que em dado momento, perto do fim
(seria mesmo?), Mr. Nobody diz: "No xadrez, é chamado de Zugzwang ("enrascada")... quando a única alternativa viável é não se mover" e assim dizendo, como Fritjof Capra em "O Tao da Física", faz um paralelo com o pensamento budista que atesta:
"Quando a mente é perturbada, produz-se a multiplicidade das coisas; quando a mente é aquietada, a multiplicidade das coisas desaparece".
E
com as palavras de Lao-Tsé, quando disse:
"Através da não-ação, tudo pode ser feito".
Caos,
aleatoriedade, entropia, o Efeito Borboleta, a Teoria M e a viagem no continuum
espaço-tempo, humanisticamente transformados em prosa e verso a partir de sua
principal referência, o homem. Para um filme que aborda os anseios e medos
humanos tendo o relativismo paralelo como veículo, que usa o efeito borboleta
dentro de cada possibilidade 'narrada', que pincela as 6 ou as 7 dimensões
compactadas da Teoria M, lançando-nos a pergunta "Como poderemos
diferenciar o real da ilusão?", estar velho ou estar jovem - e esse é o
segredo - SÃO EXATAMENTE A MESMA COISA e NADA AO MESMO TEMPO.
"Venha ver. É areia. O menino a está desfazendo. Ele não precisa mais. Antes, ele era incapaz de fazer uma escolha, porque não sabia o que aconteceria. Agora que ele sabe o que acontecerá, ele é incapaz de fazer uma escolha.
O
mais significativo de tudo? A gargalhada do protagonista ao ESCOLHER recuar-se
no Tempo e, assim, "criar" mais uma possibilidade dentro de um
universo de inúmeras delas. Cheshire, o GATO QUÂNTICO, aprova.
Mr. Nobody é assim mesmo: para
uns, um filme 'cabuloso', para outros, uma equação humana com pontos
quânticos de interrogação e de exclamação.
___________________________________ÚLTIMAS PALAVRAS:
Este é o dia mais bonito da minha vida.
E
no "Ninguém Sabe Qual é a Resposta" de hoje...:
Se a Teoria das Cordas está correta e o universo possui nove dimensões espaciais e uma dimensão temporal, então, podemos imaginar que no começo todas as dimensões estavam embaralhadas e, durante o Big Bang, três dimensões espaciais, as que conhecemos como alta, baixa e morte, e uma dimensão temporal, que sabemos que é o tempo, implodiria. As outras seis permanecem juntas.
Se vivemos num universo com tantas dimensões, como podemos fazer a distinção entre ilusão e realidade?
O tempo, como conhecemos, é a dimensão que vivemos, em apenas uma direção. Mas se as outras dimensões não forem espaciais, mas temporais? Se você mistura o purê de batatas e o molho, não pode separá-los depois. É para sempre. A fumaça sai do cigarro do papai, mas nunca volta a entrar. Não podemos voltar. Por isso é difícil fzer escolhas. É preciso fazer a escolha certa. Enquanto não se escolhe, tudo permanece possível.
(...)
Por que a fumaça nuncap retorna para o cigarro? Por que as moléculas se separam? Por que uma gota de tinta derramada nunca se reforma? Porque o universo movimenta-se para um estágio de dissipação.
Esse é o principio da entropia, a tendência do universo de desenvolver-se para um outro estado de crescente desordem. O princípio da entropia está relacionado com a flecha do tempo, resultado da expansão do universo.
Mas o que acontecerá, quando forças gravitacionais não puderem equilibrar as forças de expansão?
Ou se a energia do vazio quântico se provar muito fraca?
Nesse momento o universo pode enfrentar contrações, o "Big Crunch".
Então, o que se tornaria o tempo? Tudo se reverteria?
Ninguém sabe a resposta.
Do caralho!
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