Há uma postura humana, especialmente do homem
urbano pseudo-intelectual, facilmente enquadrada na categoria
"manias": diminuir e combater as boas ações, por menores que sejam,
do outro, em troca de...?
Peguemos como exemplo uma pessoa que ajuda o
próximo, consciente de quem é, dos haveres e dos porqueres. Uma pessoa que, por
vontade própria, larga tudo e tudo enfrenta para fazer valer o que julga bom
para os menos afortunados, os esquecidos e excluídos. Longe de ser 'santa'
- é muito provável que saiba que epítetos de qualquer natureza e fins estorvam
- ela ajuda naquilo que pode. Muitas vezes, em um contexto histórico e social
difícil, no qual está inserida, tem que recuar e ceder em respeito às crenças e
à cultura - por mais que tente praticar a caridade entre
os mais pobres, tem que recuar, ceder e criar
alternativas palatáveis às autoridades e à comunidade local, em respeito às
crenças e ao "código de conduta social".
Então, essa pessoa, ao longo dos anos de intensa labuta,
em meio a estopins armados, doenças e carência financeira, consegue, digamos, algumas
centenas de milhões em doações, e que os reverte para uma determinada ação,
como a a manutenção de um espaço utilizado para abrigo e amparo assistencial - a duras penas, pois sempre há os que não apenas se limitam a criticar mas a assumir a (des)função de dificultadores, "atravessares" ou prejudicadores.
Embora nada tenham feito de similar em suas vidas, logo dirão os 'reducionistas' que é errado, que a pessoa poderia, com essas centenas de milhões,
construir hospitais, escolas, centros de assistência, etc, numa terra cujas
práticas administrativas deserdam do amparo estatual os mais necessitados, tratando com indiferença o "destino" para o qual
foram concebidos. Então, os 'simplificadores' esquecem que erigir edificações é
relativamente fácil quando se tem o recurso financeiro para isso, mas que arcar
com as despesas de manutenção semanal, mensal e anual de uma escola ou hospital
(alimentação, água, luz, telefone, material de expediente, pagamento da folha
de pessoal, serviços diversos, combustível, vigilância, etc.) é muito mais
oneroso que custear ações de investimento - especialmente para quem trabalha com assistencialismo
e não dispõe de fontes de captação seguras.
Se a pessoa poderia ter feito coisas diferentes? Sim, ela poderia - assim como os donos de um
capital anual de centenas de bilhões de dólares, libras... Porém, querendo ou
não admitir, pessoas assim, mesmo agindo sozinhas, fazem uma diferença positiva
na vida de outras muito mais que eu e você juntos jamais chegaremos a fazer,
nem em sonho - porque estaríamos sonhando outros sonhos.
Se ela poderia fazer o que outros julgam ser
'melhor'? Poderia. Assim como eu, você e todo o resto poderíamos, ao tirar a
bunda da cadeira, sair pelo mundo ajudando a quem precisa - a começar pela
própria casa, junto à família, o trabalho, a comunidade do bairro... - ,
naquilo que podemos e nas ações que acreditamos sejam úteis, urgentes ou
necessárias. Alguns se dedicariam à educação, outros à saúde, outros à cultura,
outros a espiritualização, e todos ajudariam fazendo a SUA PARTE. Um dos
maiores equívocos do ser humano é desabonar todo um histórico de boas ações
pelo que julga ser "certo" ou por uma má ação cometida - pois se uma
pessoa faz 1000 ações positivas e 1 negativa, é por esta última que será
lembrada, não pelas outras; se fez 1000 ações positivas mas deixa de fora 1
ação que outros dizem que deveria fazer, todas as 1000 ações serão prontamente
desabonadas, e as intenções do beneficiador serão colocadas em xeque.
É realmente fácil, sobretudo para nós, os
acomodados, julgar quem "dá a cara a tapa" para fazer o que
"acha" ser melhor, o que "entende" estar ao seu alcance. De fato, essa 'mania' é, hoje, um dos maiores ESTORVOS à evolução humana.
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